O investimento consciente, também conhecido como ESG ou investimento sustentável, tem ganhado força nas últimas décadas, impulsionado por preocupações ambientais, sociais e de governança. Apesar de o fenômeno do “greenhushing”, onde investidores reduzem a divulgação de suas práticas para evitar críticas, o compromisso com ativos de impacto permanece firme.
Segundo pesquisas, 72% dos investidores mantêm suas práticas ESG em 2025, e 23% adaptam sua comunicação de acordo com o perfil dos stakeholders. Diante desse cenário, é crucial entender como tendências, desafios e avanços tecnológicos moldarão o próximo ciclo de investimentos.
A queda de 11% no Investimento Estrangeiro Direto (IED) global, para US$1,5 trilhão em 2024, apresenta um contexto desafiador. Em grande parte, esse recuo foi influenciado por fluxos não produtivos na Europa e ajustes nos portfólios diante de incertezas macroeconômicas.
Para além do declínio no IED, a América Latina e o Caribe destacaram-se, absorvendo 48,9% dos aportes em economias emergentes em 2023. Este movimento reflete o crescente interesse por projetos em energias renováveis, mineração de metais críticos e indústria automotiva na região.
Além disso, pesquisas como a EY Global ESG Investor Survey 2025 indicam que 88% dos investidores globais aumentaram o uso de informações ESG na avaliação de empresas, reforçando aumento do uso de análises socioambientais como diferencial competitivo.
*Dados baseados em surveys realizados em 2025.
Essa combinação de fatores sugere que, mesmo com redução nos fluxos totais, há um reposicionamento de capitais em direção a setores estratégicos que ofereçam impacto social e retorno financeiro de forma equilibrada.
O “greenhushing” vem acompanhado de uma polarização política, especialmente nos EUA, onde pressões de grupos conservadores e reações adversas da opinião pública reduzem a veiculação de discursos sustentáveis. Ainda assim, a prática de integrar critérios ESG nos investimentos persiste.
Avaliando riscos, destaca-se a preocupação com a avaliação da credibilidade dos planos de transição climática. A falta de métricas padronizadas e o risco de greenwashing impõem a necessidade de fortalecer a governança e a qualidade dos relatórios.
O exemplo de fundos que diminuíram comunicados públicos em resposta a críticas demonstra como investidores buscam preservar reputação, ao mesmo tempo em que mantêm ações verdes em seus portfólios.
Em resposta, empresas e fundos buscam cada vez mais melhores práticas de governança corporativa e auditorias independentes de dados ESG, reforçando a confiança de stakeholders e poupando-se de riscos reputacionais.
O uso de inteligência artificial e big data desponta como pilar estratégico para decisões de investimento. Algoritmos capazes de analisar grandes volumes de informação socioambiental aceleram a identificação de oportunidades e alertam sobre possíveis contingências.
Estima-se que, até 2026, o setor de capitais invista cerca de US$244 bilhões em tecnologia, focando em gestão avançada de dados, automação de processos e mitigação de riscos. Paralelamente, o gasto global em data centers deverá dobrar nos próximos cinco anos, respondendo à demanda por armazenamento e processamento intensivo.
No entanto, a qualidade dos dados segue sendo um ponto crítico: informações imprecisas ou mal auditadas podem levar a decisões equivocadas. Por isso, validação de dados por terceiros e protocolos robustos de cibersegurança são diferenciais cada vez mais valorizados.
Casos de uso incluem sistemas de monitoramento climático em tempo real e plataformas de due diligence automatizada, permitindo decisões mais ágeis e fundamentadas.
Na Europa, iniciativas como a Taxonomia da UE e a CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive) intensificam obrigações de divulgação, estabelecendo padrões claros para relatórios de sustentabilidade. A Ásia também avança, com regulamentações no Japão e na China voltadas à redução de emissões.
Nos EUA, o debate sobre a obrigatoriedade de divulgações ESG evolui entre a SEC e os tribunais, enquanto muitos gestores preferem estratégias menos públicas, evitando riscos reputacionais. Há uma transição no vocabulário: do termo “ESG” para a expressão “investimento sustentável”, visando maior aceitação e clareza.
Colaborações internacionais, como o Net-Zero Asset Managers Initiative, são essenciais, mas enfrentam o desafio de manter relevância diante de exigências locais e estratégias proprietárias. O resultado é um ambiente regulatório complexo, que exige visão integrada entre jurisdições e capacidade de adaptação rápida.
O alinhamento com padrões internacionais, como as diretrizes da IFRS Sustainability Disclosure Standards e possíveis normas da SEC, exigirá ajustes técnicos e culturais nas instituições.
Na América Latina, o Brasil lidera em volume de projetos anunciados, com foco em energias renováveis e cadeia de metais como o lítio. O México e o Chile também se destacam pelas políticas de incentivo a investimentos verdes e metas de neutralidade de carbono.
Globalmente, setores como tecnologia, energia limpa e mobilidade elétrica atraem crescente atenção. A indústria automotiva, por exemplo, redireciona bilhões para a produção de veículos elétricos e infraestrutura de recarga, alinhada aos compromissos de redução de emissões.
Parcerias entre empresas chinesas e governos latino-americanos em projetos de energia solar ilustram a tendência de cooperação multilaterais, que podem redefinir cadeias de valor na região.
Para investidores, entender o contexto local é crucial: aspectos como estabilidade política, incentivos fiscais e capacidade regulatória variam significativamente entre países, exigindo estratégias personalizadas por região.
As projeções para o período pós-2025 apontam para um otimismo cauteloso. Modelos que combinam resiliência climática, inovação tecnológica e governança sólida tendem a se destacar, atraindo o capital disposto a aliar retorno e impacto positivo.
Instituições que adotarem essas práticas ganharão destaque e estarão melhor posicionadas para atrair investidores alinhados a objetivos de longo prazo e sustentabilidade.
Ao unir esses elementos, gestores e investidores podem construir um portfólio mais robusto, reduzindo riscos socioambientais e gerando valor de longo prazo. O desafio é equilibrar rentabilidade, propósito e adaptabilidade em um mundo em transformação constante.
Em suma, o futuro do investimento consciente global depende de inovação contínua, diálogo transparente e alinhamento entre tecnologia, regulação e práticas de mercado. Somente assim poderemos enfrentar os desafios climáticos e sociais, promovendo um crescimento sustentável e inclusivo.
Referências